quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Resiliência

Angelica Kernchen

Resiliência é um termo muito usado no mundo corporativo atual. A maioria dos profissionais que o citam, estão embasados na definição de que resiliência é um conceito oriundo da Física, que se refere à propriedade que alguns materiais possuem de acumular energia quando submetidos à extrema pressão, retornando, em seguida, ao seu estado original sem sofrer deformações. Porém, Eduardo Carmello, autor dos livros ‘Resiliência: a transformação como ferramenta para construir empresas de valor’ (Editora Gente 2008) e ‘Supere: a arte de lidar com as adversidades’ (Gente - 2004), nos convida a refletir um pouco mais no real sentido dessa palavra, que, aplicada ao ser humano, tem significado bem diferente.

“A maioria das pessoas transpõe o sentido material/físico do conceito para o ser humano. E resolvem dizer que um profissional resiliente é aquele que aguenta pressão, que suporta adversidades, que se conforma com a situação. Dizem que o profissional tem que ser igual à ponte, elástico, silicone e por aí vai. Mas essa é uma versão incompleta da resiliência, pois trata o ser humano como um objeto, como um efeito de uma circunstância”, diz ele.

Segundo Carmello, o correto é utilizar a versão mais completa e proativa da palavra, que provém de sua etimologia (do latim ‘Resilie’ ou ‘Resalie’). ‘Silie’ significa ‘saltar’, ‘impulsionar para’. Já o prefixo ‘re’ quer dizer ‘novamente’; é o ato renovar, de reunião, de reencontro. Nesse sentido, o ser resiliente é aquele que está saltando continuamente, se renovando continuamente, transformando continuamente. É um ser impulsionado por um propósito maior, proativo e que constrói realidades, totalmente diferente de um objeto, que é o efeito passivo de uma adversidade ou crise.

“No livro ‘Resiliência: a transformação como ferramenta para construir empresas de valor’, nós definimos a resiliência como a capacidade de uma empresa, um líder, uma equipe ou talento, promover as transformações necessárias para alcançar o seu propósito. Como benefício de sua atuação como resiliente, ele desfruta da capacidade de prever, projetar e antecipar cenários e situações, assim como exercer proatividade em vez de simplesmente reagir aos efeitos das circunstâncias. Ao fazer isso, sua imagem, reputação e valorização melhora consistentemente”, diz Carmello.

Como explica o palestrante Wanderley Pires, a civilização pós-industrial, em sua grande maioria, é constituída de homens e mulheres ansiosos, exauridos por tarefas sem fim, que vivem tensos, irritados e cada vez mais insatisfeitos com o seu estilo de vida carente de tempo e vazio de significado. A velocidade das mudanças do mundo moderno criou um ambiente de insegurança e instabilidade que exige de cada um de nós um estado permanente de alerta e tensão, além de um esforço contínuo para nos adaptarmos a essas novas condições. Ao longo do tempo, esse estilo de vida estressante compromete nossas defesas imunológicas, configurando-se como o principal responsável por uma significativa parcela dos problemas de saúde que afligem o mundo civilizado. “Existem fortes evidências de que a velocidade das mudanças continuará aumentando por mais algumas décadas, e como não haverá tempo suficiente para desenvolvermos mecanismos genéticos de invulnerabilidade ao estresse, a única alternativa para o sucesso é colocarmos os pensamentos conscientes a serviço do equilíbrio emocional e aprendermos a utilizar as experiências adversas para o nosso próprio desenvolvimento”, diz Wanderley.

Nessa realidade de mercado em que vivemos, ambos os profissionais acreditam que pessoas que crescem nas mudanças, que se projetam, que se antecipam às situações e que produzem com coerência estratégica para sua equipe e clientes serão cada vez mais buscados. “Esse é o profissional resiliente; ele é proativo, positivo, organizado, focado e flexível. Ele é e será cada vez mais um profissional desejado e valorizado pelo mercado”, diz Carmello.

Essa capacidade de nos renovar, de conseguir equilíbrio emocional para lidar com adversidades, ou seja, a capacidade de ser resiliente, conforme diz Wanderley, não é um traço de caráter hereditário, que a gente simplesmente possui ou não possui. Ela representa uma faceta proeminente da personalidade humana que engloba pensamentos, comportamentos e atitudes, podendo ser lapidada por qualquer pessoa. “Ela deveria ser incorporada ao conjunto das virtudes, como a coragem, a honestidade, a justiça, a humildade, a tolerância e tantas outras que, na definição de Aristóteles, são ‘qualidades adquiridas para a prática do bem’”, afirma ele.

Além da resiliência não ter caráter hereditário, ela também independe do círculo familiar e social do profissional. Segundo apontou Carmello, a terceira geração de profissionais que estuda resiliência consideram-na como um fenômeno dinâmico, multidimensional e mutável de forças que interagem em determinado contexto.

Nesse sentido, essas três principais forças são:

- Uma situação de muita exigência ou adversa (muito intensa, grande, complexa de lidar);
- As características, histórico e capacidade do sujeito de enfrentá-las;
- O apoio emocional, racional ou físico de um adulto (família, amigo, mentor, coaching, terapeuta), que ajuda o sujeito a analisar a situação de maneira realista, a se portar como um protagonista e construir competências para lidar e superar a situação na qual o ele se encontra.

Existem pessoas que suportam bem mudanças e pressões, aprendem durante esse processo de transformação, e saem dele com tranquilidade, sem grande desgaste emocional. Esses profissionais, no geral, são antenados ao mercado e detectam os sinais de oportunidades, mesmo em situações de adversidade ou mudança; cumprem o que prometem e são imensamente capazes de promover mudanças estratégicas antes que o mercado o solicite. “O resiliente não espera uma tragédia ou caos acontecer para depois tomar uma atitude. Ele antecipa-se às mudanças, promovendo as transformações necessárias para alcançar seus objetivos e missão”, explica Carmello.


Resiliência não é conformismo

“É preciso ter muito cuidado com o conceito de resiliência, pois muitas revistas e sites conhecem uma versão limitada de ser resiliente, que é algo como é aguentar a situação, suportar pressão, ser ‘saco de pancada’, se conformar ou até mesmo deixar submeter-se passivamente. Você não é elástico, ponte, silicone. Você é resiliente quando cresce nas mudanças, inova, se antecipa às situações e produz coerência estratégica para sua equipe e clientes. Sua influência como um ser resiliente precisa ter mais impacto proativo e orientado para o futuro. Devemos associar resiliência à capacidade de transformação. Nunca, jamais, ao conformismo”, diz Eduardo Carmello.

E para tanto, Carmello diz que num mundo do conhecimento e da inovação, cada segundo é uma oportunidade de transformação. Alvin Tofler disse que é possível gerar mais valor com uma idéia em 10 segundos do que com 10.000 horas numa linha de montagem. Nesse sentido, Carmello dá dicas para que um profissional seja sustentável em ambientes de alta performance, aproveitando todos os momentos possíveis de maneira a atuar em três grandes atividades:

1 - Produzir entregas de alto valor agregado; compreender profundamente as necessidades, desejos e problemas de seus clientes e empresa.

2 - Construir uma carreira coerente, com habilidade para aprimorar competências ligadas à estratégia e à perfeita execução de suas tarefas, lembrando que valor não está no que se faz, e sim em como o cliente percebe o que se faz. Eu vejo todo dia um profissional perder sua credibilidade por não entregar um projeto no prazo acordado, por não cumprir o que prometeu com a qualidade desejada ou perder talentos importantíssimos por não conseguir liderar com honestidade, justiça e meritocracia.

3 - Ser capaz de produzir transformações constantes no seu conhecimento, performance e modelo mental, a fim de poder manter-se atualizado e conectado com todas as mudanças de desejo e significado de seus diversos clientes.

Carmello finaliza dizendo que o trabalho de gerir uma carreira é árduo e, para tanto, a resiliência é altamente importante em momentos de pressão e mudança. Ela é mais um dos excelentes conceitos utilizados em gestão e que podem melhorar significativamente os resultados da empresa e da empregabilidade de um profissional que deseja ser sustentável.

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